Casa Terra
De onde brota
Indicada ao prêmio Obra do Ano 2024 na categoria Arquitetura Residencial pelo ArchDaily Brasil
Indicada ao prêmio Building of the Year 2024 na categoria Houses pelo ArchDaily
Em parceria com Mauro Nogueira.
Localizado acima do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, na zona sul da cidade, este projeto tem três premissas iniciais: o aproveitamento do terreno frente a sua grande declividade e os patamares existentes, a valorização da vista para a vegetação exuberante e palmeiras-imperiais do Jardim Botânico e tornar a memória da construção original parte da nova residência e seus reflexos da personalidade dos novos moradores.
Desenhado para três pessoas, pai e dois filhos, o projeto absorve detalhes da construção original, como as antigas paredes portantes de pedra-de-mão, usadas como âncoras no remanejo da circulação e dos ambientes no novo projeto, dando especial destaque ao encontro entre o presente e o passado. O desenho de um pátio coberto, com iluminação zenital, introduz a escada de acesso junto ao antigo “muro” de pedra, enraizando a residência em seu lugar de memória e criando um grande momento de recepção.
Partindo desta chegada, o projeto distribui seu programa segundo a paisagem e visadas potenciais, tomando partido da amplitude visual de cada cota. Invertendo a lógica da antiga planta, o pavimento de uso íntimo da família foi reposicionado no nível térreo, levando os espaços de uso comum ao andar superior, para receber amigos e familiares. Neste pavimento estão sala e cozinha, contando com grandes varandas que se debruçam sobre a paisagem, indevassada a essa altura, e piscina, aproveitando a maior incidência do sol no andar mais alto. Ao mesmo tempo, seguindo uma gradação de privacidade, no nível abaixo da via de acesso estão ambientes de uso íntimo dos moradores, como academia e sala íntima da família, com um terraço descoberto protegido pelos muros originais de divisa, feitos em pedra, ideal para prática de exercício com privacidade e descontração.
O fluxo entre os diferentes andares é organizado a partir de duas circulações verticais distintas, dispostas segundo o aproveitamento parcial do esqueleto estrutural pré-existente: uma de chegada, ligando o pavimento intermediário ao superior, preservando a privacidade dos quartos; e outra íntima, ligando o intermediário ao inferior. Outras soluções também nasceram do encontro com o antigo layout, como a transferência da piscina para a cota mais alta e uso da escavação da antiga, no pavimento inferior, para implantação da nova cisterna para reuso de água da chuva.
A releitura e reaproveitamento de elementos da construção original também aparece em outros pontos do projeto, como nas aberturas para a paisagem, seja nas varandas ou janelas. O uso do muxarabi original, presente nas venezianas da antiga construção, na novas fenestrações remete à memória, além de filtrar a entrada de luz na fachada frontal, voltada para o norte. A mesma sensibilidade ocorre no desenho do guarda-corpo do terraço superior, pensado a partir do guarda-corpo de madeira que existia na varanda voltada para a rua da antiga edificação, com o acréscimo de jardineiras suspensas que trazem o verde para a residência.
Ao final, com seus detalhes personalizados, podemos dizer que este projeto é um retorno à arquitetura-do-artesão. Os frames em avanço das janelas baywindow, desenhados a partir de estudos de insolação insite, as jardineiras suspensas, a forma das escadas e delicadeza de seus corrimãos, as diversas soluções de marcenaria ou até mesmo o design do número da casa, inspirado numa bicicleta em homenagem à prática do ciclismo pelo morador, são alguns exemplos dessa personalização e cuidado.
Projetada para esses moradores e este lugar, até mesmo a escolha de revestimento relaciona-se à busca por uma identidade, com o reuso do piso de tábua-corrida no pavimento térreo, oriundo da fazenda da família, ou o piso de concreto queimado nos espaços comuns, remetendo afetivamente a esta relação interiorana dos moradores. Assim, casa torna-se única, sem a replicação de soluções meramente estéticas, mantendo-se em harmonia com a memória e os desejos dos residentes.
Uso Residencial
Área 433,29 m²
Local Jardim Botânico, Rio de Janeiro - RJ
Ano 2021
Status Concluído
Projeto de arquitetura Celso Rayol, Fernando Costa e Mauro Nogueira
Coordenadores de projeto Daniel Osório, Lúcia Andrezo, Thiago Godoy, André Caterina e Vanessa Moreira
Equipe Mateus Fragoso, Mateus Keiper, Eduarda Volschan, Júlia de Queiroz, Leonardo Milano e Nicholas Manso
Construção Alcance Engenharia
Fotos Dani Leite